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Foto: https://br.images.search.yahoo.com/

 

ANTONIO JOSÉ FORTE
( Portugal )

 

(Vila Franca de XiraPóvoa de Santa Iria6 de Fevereiro de 1931 – Lisboa15 de Dezembro de 1988), poeta ligado ao movimento surrealista, integrou o chamado Grupo do Café Gelo. Trabalhou também como funcionário da Fundação Calouste Gulbenkian, onde durante mais de 20 anos desempenhou as funções de Encarregado das Bibliotecas Itinerantes. Foi casado com Amélia Bento, farmacêutica, e, depois, com a pintora Aldina.

Deixou uma obra breve, mas que claramente o afirma como um consumado poeta. Com colaboração na revista "Pirâmide" e em vários jornais ("A Rabeca", "Notícias de Chaves", "O Templário", "Diário de Lisboa", "A Batalha", "Jornal de Letras, Artes e Ideias", publicou o seu primeiro livro, 40 Noites de Insónia de Fogo de Dentes Numa Girândola Implacável e Outros Poemas, em 1958. Representado em inúmeras antologias poéticas, António José Forte é também autor do livro de poesia infanto-juvenil Uma rosa na tromba de um elefante dedicado à sua filha Gisela.

A poesia de António José Forte carreia uma certa perversão do "discurso" poético e a utopia ideológica, anarquizante e ainda claramente surrealista; é, com uma intenção nitidamente bretoniana, uma maneira de afirmar que o acto de escrever é "ainda aquilo que sabe fazer melhor", mas dizer também em consciência haver "gente que nunca escreveu uma linha e fez mais pela palavra que toda uma geração de escritores"[1]. A sua poesia está reunida em Uma Faca nos Dentes, com um prefácio de Herberto Helder, seu amigo de muitos anos, onde este afirma que "a voz de António José Forte não é plural, nem directa ou sinuosamente derivada, nem devedora. Como toda a poesia verdadeira, possui apenas a sua tradição. A tradição romântica, no menos estrito e mais expansivo e qualificado registo".

Obras

  • 40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola implacável e outros poemas (1958);
  • Uma rosa na tromba de um elefante (1971);
  • Teses sobre a visita do Papa (1982);
  • Uma faca nos dentes (1983), com prefácio de Herberto Hélder
  • Caligrafia ardente (1987);
  • Poemas de amor (2006);
  • Uma faca nos dentes (2017), com prefacio de (Herberto Helder);
  • Un Couteau entre les dents (Ab irato, 2007), œuvres complètes en édition bilingue français-portugais.

Biografia extraída de : https://pt.wikipedia.org/

 

 

AINDA NÃO

Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar

ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem
.
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer

ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça
.
ainda não há camas só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração

 

RETRATO DE UM ARTISTA EM CÃO JOVEM

Com o focinho entre dois olhos muito grandes
por trás de lágrimas maiores
este é de todos o teu melhor retrato
o de cão jovem a que só falta falar
o de cão através da cidade
com uma dor adolescente
de esquina para esquina cada vez maior
latindo docemente a cada lua
voltando o focinho a cada esperança
ainda sem dentes para as piores surpresas
mas avançando a passo firme
ao encontro dos alimentos

aqui estás tal qual
és bem tu o cão jovem que ninguém esperava
o cão de circo para os domingos da família
o cão vadio dos outros dias da semana
o cão de sempre
cada vez que há um cão jovem
neste local da terra

 

(NOITE DE INSÔNIA DE FOGO DE DENTES NUMA GIRÂNDOLA
IMPLACÁVEL E OUTROS POEMAS, 1960)

 

*

 

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Página publicada em abril de 2022

 

 


 

 

 
 
 
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